Quem é Quem
Adobe (Flash) x Apple (HTML5)
AGOSTO DE 2010Em abril, a empresa desenvolvedora de software Adobe anunciou o fim do projeto de criação de uma versão para iPhone do programa Flash - amplamente usado em PCs, celulares e na web e que permite que animações, jogos, vídeos e aplicativos rodem nesses ambientes. Steve Jobs, o todo-poderoso da Apple, contra-atacou: disse que o Flash é uma tecnologia superada e que nunca rodaria nos produtos da marca. De fato: iPhones e iPads não acessam diversos conteúdos da web, a exemplo de dispositivos móveis de outras marcas, por incompatibilidade com o Flash. Jobs aposta no desenvolvimento de um possível rival, a linguagem HTML 5, para vencer a batalha. Entenda o que está por trás dessa guerra, quais seus próximos passos e como ela afeta a vida dos usuários da web e de itens Apple.
Apple

Adobe

As empresas
| A empresa comandada por Steve Jobs tem uma estratégia: criar seus próprios padrões para dispositivos eletrônicos e programas. O que dá esse poder à empresa é o sucesso de produtos que se tornam verdadeiros objetos de desejo dos consumidores: caso do iPhone e do iPad | |
| Empresa desenvolvedora de softwares, tem em seu catálogo programas como o Photoshop, um dos editores de imagens mais populares do planeta. É dona também do Flash - um dos carros-chefe da empresa | |
As tecnologias
O HTML 5 é uma linguagem de programação usada para criar páginas na web. Seu desenvolvimento é coordenado pelo W3C, consórcio que difine os padrões da web e é dirigido pelo britânico Tim Berners-Lee, considerado um dos pais da internet. O objetivo da nova linguagem é facilitar a vida de programadores que criam páginas da web e melhorar a qualidade da navegação do usuário pela rede. A nova linguagem deve permitir a reprodução de vídeos sem a ajuda de nenhum programa auxiliar, além da elaboração de animações em sites. Em tese, isso seria uma sentença de morte para o Flash - e, por isso, a HTML 5 vem sendo chamada de "Flash killer" (assassina do Flash)
O Flash é um software que reúne ferramentas de desenho e programação que permitem a criação de animações, aplicativos para computadores e celulares e até de sites. Ele também fornece um formato digital para vídeos na internet. O Flash foi tão bem-sucedido nesses campos que se tornou uma espécie de padrão para animação e vídeo em web e dispositivos móveisOs argumentos de cada um
• O Flash é um programa com "código fechado" - ou seja, sua programação é mantida em segredo. Isso abriria brechas para problemas de segurança, como ataques de hackers aos dispositivos móveis dos usuários) |
• Os vídeos em Flash consomem muita bateria dos dispositivos móveis |
• O Flash não foi criado para dispositivos sensíveis ao toque - como iPhone e iPad |
• A qualidade de jogos e aplicativos em Flash é inferior à dos disponíveis na loja virtual da Apple (APP Store), que oferece mais de 50.000 games que rodam sem nescessidade do Flash |
• O HTML 5 será superior ao Flash porque sua programação poderá ser controlada pela Apple |
• Um time de especialistas cuida das questões ligadas à segurança no Flash |
|
• A versão 10.1 do Flash possui recursos para interfaces sensíveis ao toque |
• 70% dos jogos disponíveis na web rodam com Flash, mas, graças à política da Apple, não podem ser acessados por proprietários de iPhones e iPads |
• O Flash trabalha em conjunto com todos os padrões existentes na web, inclusive o HTML 5. E 75% de todos os vídeos que circulam na web utilizam o formato Flash - inclusive o YouTube |
Por trás dos argumentos
A APP Store é uma fonte importante de recursos para a Apple: é ali que usuários de iPhone e iPad compram aplicativos e games no padrão da marca. Com a guerra ao Flash, a Apple quer proteger esse mercado cativo, garantindo que só programas encontrados em sua loja sejam utilizados em seus dispositivos. Se ela permitisse que o Flash rodasse em seus produtos, os proprietários de iPhones e iPads poderiam acessar conteúdos livremente - o que acontece com os usuários de dispositivos móveis de outras marcas. Dessa forma, produtos de terceiros tirariam da Apple o controle sobre os aplicativos
|
Mesmo com a existência do HTML 5, os aplicativos mais elaborados da Apple deverão continuar a ser produzidos exclusivamente com o kit de desenvolvimento da marca - uma espécie de "Flash da Apple". Ou seja, continuariam a ser exclusividade da APP Store |
O principal mercado do Flash são os desenvolvedores, profissionais que criam aplicativos e games usando o padrão do programa - outro nicho importante é o universo de vídeos em meio digital, que rodam em sua maioria no formato Flash. São os desenvolvedores que pagam pelo item da Adobe, criam produtos baseados nas ferramentas de animação e interatividade do programa e, por fim, disponibilizam as atrações na internet. A Adobe teme que seu programa perca terreno para o padrão HTML 5, o que o tornaria obsoleto. Se a ação da Apple em favor do novo formato criar uma tendência, os negócios da Adobe podem ser prejudicados |
Quem apoia quem

Microsoft: assim com a Apple, tem planos de oferecer conteúdo exclusivo na área de aplicativos. Como mantém seu próprio navegador para a web, o Internet Explorer, seu maior interesse é mantê-lo atualizado para novas linguagens de programação - caso do HTML 5. Outro detalhe importante: a empresa é dona do Silverlight, concorrente do Flash
|
Opera: o navegador não fez sucesso no mundo dos PCs, mas é top nos celulares. Para não perder esse mercado, aposta em padrões que rodem em todos os dispositivos móveis. Para garantir acesso aos produtos Apple, escolheu o HTML 5 |

Google: seu sistema operacional para celulares, o Android, é um dos principais concorrentes da Apple. Contudo, apesar de ficar do lado da Adobe, é flexível o sufiente para agradar usuários de todos os formatos e padrões. Por isso, seus aplicativos rodam praticamente em todos os sistemas
|
Hulu, NBC e Time Warner: produtoras e distribuidoras de conteúdo, ficam sempre do lado dos padrões mais abrangentes da rede - o Flash, atualmente
|
Nokia: concorrente da Apple no ramo de celulares. Pode se beneficiar de todos os padrões, mas prefere atacar sua rival e, por isso, não titubeia: aposta no Flash |
Próximos passos
A Apple deve continuar recusando-se a aceitar a tecnologia Flash em seus dispositivos |
A Adobe deve seguir lutando para adaptar sua tecnologia aos novos formatos e padrões que aparecem na web. É possível que as tecnologias Flash e HTML 5 trabalhem de forma complementar no futuro |
E o usuário com isso...
Para os proprietários de produtos da Apple, sites em Flash continuarão a ser uma zona proibida na rede, já que os dispositivos não podem acessá-los |
Os usuários dos demais dispositivos móveis continuarão acessando conteúdos em Flash e não sentirão os resultados do conflito |
Nenhum comentário:
Postar um comentário