Cantava a Cigarra Em dós sustenidos Quando ouviu os gemidos Da Formiga Que, bufando e suando, Ali, num atalho, Com gestos precisos Empurrava o trabalho; Folhas mortas, insetos vivos. Ao vê-la assim, festiva, A Formiga perdeu a esportiva: “Canta, canta, salafrária, E não cuida da espiral inflacionária! No inverno Quando aumentar a recessão maldita Você, faminta e aflita, Cansada, suja, humilde, morta, Virá pechinchar à minha porta. E na hora em que subirem As tarifas energéticas, Verás que minhas palavras eram proféticas. Aí, acabado o verão, Lá em cima o preço do feijão, Você apelará pra formiguinha. Mas eu estarei na minha E não te darei sequer
| Uma tragada de fumaça!” Ouvindo a ameaça A Cigarra riu, superior, E disse com seu ar provocador: “Estás por fora, Ultrapassada sofredora. Hoje eu sou em videocassete, Uma reprodutora! Chegado o inverno Continuarei cantando - sem ir lá – No Rio, São Paulo, E Ceará, Rica! E você continuará aqui Comendo bolo de titica. O que você ganha num ano Eu ganho num instante Cantando a Coca, O sabãozão gigante, O edifício novo E o desodorante. E posso viver com calma Pois canto só pra multinacionalma.” |
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